TRANSFORMAÇÃO, MUDANÇA E "MAQUIAGEM": Ordens que "pegam", "não pegam" e "deixam pegar"!


Como incorporar uma política pública na cultura organizacional, perpetuando sua prática? O LEGADO é o desafio de qualquer COMANDO, seja na esfera estratégica, tática ou operacional da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). As ordens, determinações, ações ou práticas; incisivamente implementadas pelo rigor e pragmatismo dos 2 pilares que sustentam a Força Pública bandeirante - a HIERARQUIA e a DISCIPLINA; devem necessariamente surtir efeito instantâneo, em virtude da inescusável ADESÃO, típica das estruturas de caserna. Entretanto, será que tais medidas, mesmo com eficácia e eficiência inquestionáveis, irão se introjetar naturalmente no dia-a-dia do Policial Militar, aderindo à chamada "CULTURA ORGANIZACIONAL"? Qualquer mandamus que altera um ambiente ou uma rotina pode surtir 3 efeitos sociais distintos, que impactam na sua permanência organizacional.

A TRANSFORMAÇÃO refere-se a qualquer medida que altera uma prática anterior e se sedimenta ao longo do tempo, independentemente das alterações Comando ou Chefia. A AMBIÊNCIA, ou seja, a relação dos Policiais Militares com o espaço em que trabalham, demonstra que a nova ação é importante e justifica a alteração do padrão anteriormente estabelecido,  desconsiderando quaisquer consequências geradas. Isso não significa que esse processo seja indolor. Pelo contrário, movimento gera estresse e atrição, condições superadas pela RESILIÊNCIA INICIAL dos implementadores e difusores da nova política pública e, sobretudo, pela formação de uma NOVA CONSCIÊNCIA SITUACIONAL de que a transformação é vital para uma maior efetividade ou, até mesmo, a existência de uma Instituição. Para a PMESP, talvez, o maior exemplo dos últimos 30 anos seja a chegada da POLÍCIA COMUNITÁRIA como, simultaneamente, uma Filosofia e uma Estratégia. Após 3 décadas, os Conselhos de Segurança Comunitárias (CONSEGs), as Bases Comunitárias de Segurança (BCSs), o Programa Educacional de Resistência às Drogas e ao Álcool (PROERD) e o Programa Vizinhança Solidária (PVS) persistem, resistem e se modificam, sempre com foco na POLÍCIA DE APROXIMAÇÃO.

Já a MUDANÇA refere-se a uma alteração transitória e temporária de rotina, impelida por um Chefe ou Comandante e que, por ser personalista e não contar com o engajamento dos envolvidos, se perde ao longo do tempo; principalmente após seus perpetradores deixarem de executar a função onde determinou tal política pública. Veja, não basta que a ordem seja necessária e legal para que, "per se", transforme um ambiente. É necessário que o insumo mais importante da Instituição entenda o propósito e, literalmente, "compre a idéia". O POLICIAL MILITAR, mesmo que não a aceite, deve entender a necessidade de permanência de qualquer medida que impacte no seu serviço. Caso contrário, basta a troca daquele que determinou a medida para que tal ação, mesmo que benéfica, se perca parcialmente ou completamente. Assim, profetiza-se o ditado: "O COMANTE SAIU, A CASA CAIU"

Enquanto a mudança, mesmo que transitoriamente, gere resultados mensuráveis enquanto o seu implementador permaneça no cargo, há uma situação ainda pior! Algumas determinações são superficialmente cumpridas, mas sem a MOTIVAÇÃO para se alcançar o resultado. É o que chamamos de "MAQUIAGEM", pois esconde a verdadeira intenção daqueles que recebem a determinação: NÃO ALCANÇAR O OBJETIVO ALMEJADO POR QUEM DETERMINOU A POLÍTICA PÚBLICA! Das 3 ilações propositivas apresentadas neste ensaio, esta é a que resulta no maior desgaste inútil de ativos operacionais e administrativos, bem como de recursos materiais e logísticos. Normalmente, a "Maquiagem" é realizada para determinações de gestores que não aceitam a importante função de assessoramento de seu Estado Maior que, eventualmente, com o temor de qualquer tipo de represália, aceitam a contragosto a mudança de rotina e se movimentam APENAS O NECESSÁRIO para sinalizar a obediência a ordem sem, contudo, ter a convicção e o desejo que a mesma surte resultados. 

Obviamente, TODO COMANDANTE QUER SER TRANSFORMADOR! Para tanto, desviando-se das armadilhas que resultem em ações que "não pegam" e se disfarçam; ou que  "deixam pegar" e, assim que possível, são engavetados, é fundamental o investimento do seu TEMPO naquilo que é premente: o CONVENCIMENTO e a PERSUASÃO das LIDERANÇAS - especificamente daquelas que representam ou simbolizam a maioria dos afetados ou a cultura organizacional doravante sedimentada e que precisa ser superada. Para tanto, RESILIÊNCIA, PACIÊNCIA, PERSISTÊNCIA, PERSPICÁCIA e, até mesmo, INTUIÇÃO; são características a serem desenvolvidas e aperfeiçoadas sempre que um verdadeiro COMANDANTE queira, efetivamente, TRANSFORMAR e DEIXAR LEGADO! Aparentemente, tais ilações podem ser racionalizadas como um mero detalhe na carreira. Entretanto, guarde essa máxima dos COMANDOS: "Não são todos os detalhes que fazem a todo mas, apenas, a soma de ALGUNS deles". TRANSFORMAR A POLÍCIA MILITAR! DEIXAR LEGADO! FAZER HISTÓRIA! FOCO NA MISSÃO!

AUTOR
Maj PM Eduardo MOSNA XAVIER (Subcomandante do 14° BPM/M, Doutor em Ciências Policiais pelo CAES e Doutor em Educação pela USP)

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